quinta-feira, 18 de julho de 2013

Dia 7 - Cesta de dez pontos

Gosto de usar metáforas esportivas para explicar tudo. Muito porque alguns dos grandes aprendizados advindos do meu pai e da minha mãe se originaram no esporte.

A lealdade em padrão do Palmeiras, tão proferida pelo velho Wagner. O desprendimento de ego para se deixar ter ídolos, como minha mãe Sandra teve o Ayrton Senna e o Gustavo Kuerten. O senso de unidade, de trabalho em equipe, que eu mesmo aprendi, sentado em frente à TV, nas arquibancadas, campos e quadras. E, acima de tudo, a noção de que só com persistência é que podemos conseguir os objetivos. Para mim, o esporte sempre explicou a vida.

Das metáforas que uso com mais frequência, uma das minhas favoritas veio do basquete: "Não existe cesta de dez pontos". Se algo está tão ruim quanto estar dez, quinze, vinte pontos atrás em um jogo de basquete, não adianta se desesperar. O máximo de pontos que dá para fazer com um arremesso é três. Não há solução mágica. O jogo é ganho ponto a ponto. Os objetivos são conquistados aos poucos.

Mais uma vez, a velha máxima se fez verdade hoje pela manhã, quando estive no Parque da Cidade de Jundiaí. Desde ontem eu estava planejando voltar a me exercitar lá. Estava resignado, com a clara noção de que não iria conseguir correr. "O negócio é caminhar, primeiro, para o corpo ir se acostumando", disse a mim mesmo. "Se eu correr, vou me lesionar". Mas, hoje de manhã, no carro, eu já estava pensando em reiniciar o programa de corrida. "Vamos ver, vai que eu consigo", disse a mim mesmo. "Pelo menos metade do programa da primeira semana", sonhei.

Meu corpo se encarregou de me impedir. Eu não tenho a menor condição de correr. Nem de trotar. nem de intervalar com caminhadas. Minhas pernas doeram de mil maneiras diferentes. Joelhos, tornozelos, canelas, panturrilhas, coxas, quadris... Nada passou impune à caminhada. Se doeu para andar, imagine para correr. Sem chance.

Ter de caminhar é uma merda para quem quer correr. Especialmente para alguém que já correu no passado. E o pior é que caminhar pouco não adianta nada. Uma hora de caminhada é o mínimo para o corpo queimar gordura e se condicionar.E lá fui eu, andando, passo após passo, com as minhas dores, invejando cada corredor que passava por mim, aceitando que, hoje, aquele velhinho de 70 anos que passou correndo ao meu lado tem uma condição física melhor que a minha.

Minha consciência diz que terei de andar pelo menos umas doze vezes - três vezes por semana por um mês - até poder voltar a correr devagarzinho. Mas, com o complemento da bicicleta, pelo menos aos domingos, quem sabe eu não consigo economizar um pouco, deixar isso em três semanas... Sim, cá estou eu tentando cortar o caminho, de novo. Dessa vez, porém, acho que meu corpo não vai deixar.

Se a parte externa do corpo dói, como costas e pernas, imagine como os órgãos internos estão desacostumados ao exercício. Imagine o meu pulmão, de repente, tendo de processar muito mais oxigênio que o habitual nos últimos tempos. O coração tendo de bater muito mais rápido para mandar sangue para as pernas. O fígado quebrando glicose mais aceleradamente que o normal, para produzir energia.

Como diz a letra da linda e melosa "Amazing', do Aerosmith, de 1994, "You have to learn to crawl before you learn to walk".

Anda, Marada. Anda.


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